sábado, 4 de outubro de 2008

Não me deixe!

Agora, era como um monumento. De joelhos, encostada ao espelho da cama, ela sentia nas costas a respiração ofegante do rapaz que, apesar da pouca idade, levava à loucura aquela mulher tão sedenta de um incêndio como aquele. Ela, na casa dos 50, ele, com 17: um baque!
A despeito da promessa que havia antes feito, o menino tornara a ligar, a procurá-la, não resistira. Ambos tinham entrado num consenso, aquilo lá era uma mentira, não podiam continuar a viver algo tão potencialmente perigoso e cheio de ardis, separar-se-iam - se fossem capazes. Não foram, ele não resistiu... As lembranças eram fortes demais, cálidas demais, dominavam-no. E em cada passo que dava via um braço, um abraço, um sinal, todos os sinais. Tudo o levava àquela mulher que o havia ensinado a ser total, a ser homem, a ser aquele que quisesse ser.
Encontraram-se, naquela noite, no mesmo quarto onde antes viveram tão tórridas cenas, abraçaram-se, disseram-se um para o outro e beijaram-se longamente, numa tentativa de voltar atrás e recuperar tanto tempo perdido...
Era tarde, passava das três da manhã, e as duas almas pareciam inscritas uma na outra. Ele beijava as covinhas das costas da mulher, fazendo com que ela transcendesse no tempo e no espaço para sentir-se, de novo, menina. Suspiros lânguidos soavam como música francesa e os dois, agora, dançavam-na suavemente. Beijos, abraços e afagos ditavam a cor do céu espelhado do quarto, e enquanto ele mordiscava barriga e seios da mulher, ela revirava os olhos esperando para retribuir a prenda.
Os dois rolavam na cama sem se preocupar com nada mais, falavam coisas desconexas, soltavam versos de acaso, faziam do tempo espectador daquela beleza. A mulher era invadida pouco a pouco, e, à medida que se sentia completa, gemia baixo uma promessa: "Moi je t'offrirai des perles de pluie venues de pays où il ne pleut pas. Je creuserai la terre, jusqu'après ma mort pour couvrir ton corps d'or et de lumière. Je ferai un domaine où l'amour sera roi, où l'amour sera loi, où tu seras reine." E como que se soubesse que de manhã o sol e a brisa matutina poderiam levar o rapaz para sempre, ela o prendeu com as pernas e chorou versos de pedido: "ne me quitte pas, ne me quitte pas, ne me quitte pas..."




No sussurro, Ne Me Quitte Pas de Jacques Brel.

3 comentários:

Anônimo disse...

e o que era para ser somente sexo, o amor transformou.

Calango! disse...

Muito bom Calouro, gostei do texto... e dos outros blogs tambem.

Passarei a acompanhá-lo!

Avante...

Giovana Peres disse...

muito bem escrito , eu sou bem nova e tal , nem devo ser tão boa escrevendo , mas posso te garantir que essa é a coisa que mais me tocou depois de A Menina Que Roubava Livros {Markus Zusak} .
Meus parabéns mais uma vez .

:*