Ao som da campainha, mil e uma coisas passaram pela cabeça de ambos. Ela correu, abriu a porta, sorriu e, fazendo tipo, disse:
- "Ai, meu carneiro... No forno..." - sumiu, deixando-o à porta. Voltou com duas taças, um sorriso lânguido e, na boca, o batom.
- "Você não vem?" - perguntou debochada.
Ele foi, perguntou pelo carneiro e, como resposta, ouviu, excitado, que o prato principal acabara de passar pela porta. Beijaram-se.
Enquanto ela escolhia a música, ele ocupava-se em abrir e servir o vinho barato que trouxera, ambos concordavam que naquelas noites não havia espaço para Mouton-Rothschild. Ela veio, pegou a taça com uma mão e com a outra soltou o cabelo, que - depois confessou - havia prendido com o único objetivo de parecer sexy ao soltá-lo. Era assim, sempre fora. Numa relação puramente sexual, por mais intimidade que tivessem, não deixariam de interpretar aqueles personagens sempre tão sedentos um do outro.
Alcançaram-se.
Depois de truques, confissões e várias taças de vinho, um samba em slow motion convidou-os a dançar.
- "Dance-me" - ordenou ela.
Sem pestanejar, ele foi.
["you're so good to me/ and your love's the inspiration that I need"] Com todos os pés a fim, ensaiaram beijos, sincronizaram passos... ["face the music/ dance to the music/ now I hear the sound of music/ and your kisses take it closer to perfection"] Num giro, ele desabotoou o vestido dela; noutro, ela arrancou-lhe a camisa. ["you're so good to me/ and I hope to give you back the peace of mind/ that you give to me/ and it feels like Bossa Nova by Jobim"] Naquela bossa suave, ["the solution to my dilemma"] derreteram-se, ["you're my girl from Ipanema/ inspiration for my samba"] desnudaram-se e ela ["in slow motion"] pediu:
- Call me Madalena!
["you are the top, you are my devotion/ my slow motion bossa nova dream"]
Ele a beijou, ergueu-a no ar e, apertando-a contra a parede, suspirou:
- Em terra de Maria, quem tem Madalena - riu - é rei.
- És tu. For the first and last time - ela disse, olhando-o nos olhos.
- Eu quero um baby seu!
- Mine?
- Mien.
- Seu?
- Nuestro!
A mão grossa dele correu por toda a extensão do corpo quente daquela nova Madalena que nascia ali, filha do prazer, escrava do prazer, dona do prazer. Ele a levou com sofreguidão à mesa, deitou-a, nua. Nu, fez com que cada parte sua unisse-se a ela, com que cada gesto seu curvasse-se a ela e em cada beijo seu despedia-se dela. Depois de tanto tempo, aprendera a reconhecer a verdade naquela teia tão emaranhada de ardis que ambos haviam construído.
Língua a língua, foram-se conhecendo e, simultaneamente, despedindo-se de cada pedaço um do outro. Cada afago escondia uma lembrança diferente e o gosto amargo que a despedida tinha misturava-se ao doce que aquele encontro cheio de volúpia e novidade encerrava. Uma torrente de juras vinham fomentar o amor - tão novo, tão curtido - que eles, em prol do jogo, escondiam até mesmo de si. Haviam prometido um para o outro que entregar-se-iam ao fugaz, sem caber de imaginar um depois. Não conseguiram.
Ele puxou-a para si, virou-a e sentou-a em seu colo, agora sobre a mesa. Num movimento semelhante àquela relação, foram, vieram, ficaram... E enquanto curtiam o êxtase daquela nova dança, ele, munido do vermelho de um batom, inscreveu em Madalena um último poema, "case-se comigo!"
Gozaram, sorriram, dormiram.
De manhã, ao acordar, deitado sobre a mesa, ele descobriu-se viúvo de uma Madalena que nascera para morrer de amor. Chorou a perda, vestiu a roupa, bateu a porta e nunca mais voltou.
- "Ai, meu carneiro... No forno..." - sumiu, deixando-o à porta. Voltou com duas taças, um sorriso lânguido e, na boca, o batom.
- "Você não vem?" - perguntou debochada.
Ele foi, perguntou pelo carneiro e, como resposta, ouviu, excitado, que o prato principal acabara de passar pela porta. Beijaram-se.
Enquanto ela escolhia a música, ele ocupava-se em abrir e servir o vinho barato que trouxera, ambos concordavam que naquelas noites não havia espaço para Mouton-Rothschild. Ela veio, pegou a taça com uma mão e com a outra soltou o cabelo, que - depois confessou - havia prendido com o único objetivo de parecer sexy ao soltá-lo. Era assim, sempre fora. Numa relação puramente sexual, por mais intimidade que tivessem, não deixariam de interpretar aqueles personagens sempre tão sedentos um do outro.
Alcançaram-se.
Depois de truques, confissões e várias taças de vinho, um samba em slow motion convidou-os a dançar.
- "Dance-me" - ordenou ela.
Sem pestanejar, ele foi.
["you're so good to me/ and your love's the inspiration that I need"] Com todos os pés a fim, ensaiaram beijos, sincronizaram passos... ["face the music/ dance to the music/ now I hear the sound of music/ and your kisses take it closer to perfection"] Num giro, ele desabotoou o vestido dela; noutro, ela arrancou-lhe a camisa. ["you're so good to me/ and I hope to give you back the peace of mind/ that you give to me/ and it feels like Bossa Nova by Jobim"] Naquela bossa suave, ["the solution to my dilemma"] derreteram-se, ["you're my girl from Ipanema/ inspiration for my samba"] desnudaram-se e ela ["in slow motion"] pediu:
- Call me Madalena!
["you are the top, you are my devotion/ my slow motion bossa nova dream"]
Ele a beijou, ergueu-a no ar e, apertando-a contra a parede, suspirou:
- Em terra de Maria, quem tem Madalena - riu - é rei.
- És tu. For the first and last time - ela disse, olhando-o nos olhos.
- Eu quero um baby seu!
- Mine?
- Mien.
- Seu?
- Nuestro!
A mão grossa dele correu por toda a extensão do corpo quente daquela nova Madalena que nascia ali, filha do prazer, escrava do prazer, dona do prazer. Ele a levou com sofreguidão à mesa, deitou-a, nua. Nu, fez com que cada parte sua unisse-se a ela, com que cada gesto seu curvasse-se a ela e em cada beijo seu despedia-se dela. Depois de tanto tempo, aprendera a reconhecer a verdade naquela teia tão emaranhada de ardis que ambos haviam construído.
Língua a língua, foram-se conhecendo e, simultaneamente, despedindo-se de cada pedaço um do outro. Cada afago escondia uma lembrança diferente e o gosto amargo que a despedida tinha misturava-se ao doce que aquele encontro cheio de volúpia e novidade encerrava. Uma torrente de juras vinham fomentar o amor - tão novo, tão curtido - que eles, em prol do jogo, escondiam até mesmo de si. Haviam prometido um para o outro que entregar-se-iam ao fugaz, sem caber de imaginar um depois. Não conseguiram.
Ele puxou-a para si, virou-a e sentou-a em seu colo, agora sobre a mesa. Num movimento semelhante àquela relação, foram, vieram, ficaram... E enquanto curtiam o êxtase daquela nova dança, ele, munido do vermelho de um batom, inscreveu em Madalena um último poema, "case-se comigo!"
Gozaram, sorriram, dormiram.
De manhã, ao acordar, deitado sobre a mesa, ele descobriu-se viúvo de uma Madalena que nascera para morrer de amor. Chorou a perda, vestiu a roupa, bateu a porta e nunca mais voltou.
Nas entrelinhas, Slow Motion Bossa Nova de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos.
4 comentários:
Descreve meu sonho sem sequer saber que existo, mas sabe mais que qualquer um que eu, Maria (e) Madalena, quero tudo exatamente assim.
My name is Madalena.
Embriaguei - me de coisas boas.
você escreve tão bem Pretinho, dá até prazer na leitura.
continue sempre assim.
sempre, e sempre.
nossa , muito lindo isso , eu não sou muito formal ao comentar , uso sempre palavrões perdoe-me , mas isso está DO CARALHO ! . perfeição em descrever toques , sensações , e o fim que merece. meus parabéns , do fundo da alma , me encantou realmente. nunca deixe de escrever , é um bem qwue faz a minha vida e de outros tantos que escrevem e leêm*.
dê uma passada e leia alguma de minhas histórias loucas , viajo muito escrevendo , vou a londres , alemanha , haha , que comentário longo esse meu . bom já o parabenizei . agora vou-me .
beijos:*
blog muito boom! escreve mto bem :)
o nome, criativissiimo!
voltarei mais vezes, sem dúvida.
Estou seguindo, se quiser, de uma pssadinha no meu tbm?
se quiser seguir, xD
*--*
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